Desenhos Antonio Eder
Parte I - O estranho objetoBruno era um desses garotos elétricos.
Bastou que JR dissesse que aquela era a casa e ele saiu disparado pela porta a dentro.
Sua irmã Lia ficou mais uma vez preocupada.
A casa não parecia muito segura com sua porta emperrada e os degraus caindo aos pedaços.
A madeira do assoalho apodrecera, revelando, aqui e ali, a cabeça de um prego.
Parecia estar tudo desmoronando naquela casa, das paredes ao teto.
Isso dava um ar ainda mais misterioso e assustador à descoberta de JR.
Um dia desses,percorrendo as ruas do bairro, ele encontrara o casarão e o estranho objeto, escondido em
um armário em baixo da escada.
Vocês devem estar se perguntando o que esse objeto tinha de tão diferente.
Para começar, era uma espécie de prato de porcelana com um círculo no centro formado por dois peixes nadando em sentido contrário.
Ao redor do círculo havia três dragões. Embora parecesse, não devia ser um prato, pois não dava para comer nele.
Mas o que era mais estranho é que, enquanto todo o resto da casa estava cheio de poeira, o prato estava em perfeito estado e nem um pouco sujo ou empoeirado.
JR pensou em pegar o prato e levar para os amigos, mas achou que seria mais emocionante se ele os levasse até a casa.
Os três não tiveram grande dificuldade para encontrar o objeto.
Ele estava exatamente onde JR os encontrara pela primeira vez, como se estivesse esperando por eles.
- Nossa, parece muito antigo. - disse Bruno. Deve ter um milhão de anos!
- Isso é impossível, seu bobinho! - argumento Lia.
- Ah, é? E por que, espertinha?
- Simples. Há um milhão de anos não havia pessoas para fazer isso.
Bruno, que estava na fase dos porquês, não perdoou:
- Por que não havia pessoa há um milhão de anos, hein?
- Ora, porque...
Lia não terminou. O prato, nas mãos de Bruno, estava tremendo e emitindo uma luz azulada.
- Ei, toquem nisso aqui!
JR e Lia aproximaram as mãos.
Mal tocaram na porcelana e a realidade se alterou.
Parte II - A realidade se altera
Algo aconteceu.
Num instante os três estavam no velho casarão.
No instante seguinte estavam flutuando no meio do nada, entre as coisas que existem, as que existiram e as que jamais existirão.
Havia uma floresta com árvores imensas e assustadoras.
Lá em cima, no céu, pássaros estranhos voavam e emitiam gritos agudos.
Bruno olhava à volta, entre maravilhado e assustado:
- Que lugar é esse?
- Não tenho a mínima idéia. - disse Lia.
- Vai ver estamos em uma floreta de dinossauros...
Estavam nisso quando ouviram um barulho estranho.
Parecia meleca desgrudando do chão, mas era muito, muito, muito mais alto que isso.
Depois ouviram o barulho seco de árvores caindo.
O que quer que estivesse se aproximando, devia ser enorme.
E era!
Em segundos, Jr, Bruno e Lia viram aparecer da parte mais densa da floresta uma massa enorme de carne.
Era um animal comprido, com o corpo repleto de anéis que se enrolava como uma bola para poder se movimentar.
A coisa estava vindo diretamente para eles, rolando e quicando como uma bola de basquete.
O grupo saiu correndo e pulou atrás de um tronco de árvores caído bem a tempo de escapar do gigantesco molusco.
Mas não seria tão fácil.
O animal deu meia volta e veio quicando novamente na direção deles.
JR e Bruno saíram correndo, mas Lia ficou no lugar, hipnotizada com aquela visão monstruosa.
- Lia, venha para cá! - gritou JR.
Mas a garota não ouvia.
Ela permanecia lá, parada, olhando para cima e incapaz de se mexer.
Bruno fechou os olhos, mas quando os abriu de novo, a irmã ainda estava inteirinha.
Ninguém sabia o que tinha acontecido.
O animal havia quicado para longe, como se algo tivesse batido nele.
Parte III - Surge Toku
Observando direito, as crianças perceberam um animalzinho parecido com um castor.
Era ele o salvador de Lia.
- Quem é você? - perguntou JR, aproximando-se.
O animalzinho inclinou o corpo, como se recebesse os aplausos de uma platéia imaginária.
- Sou Toku, a seu dispor.
- E o que era aquilo? - perguntou Lia.
- Aquele era Quiton. - explicou Toku.
Quitons são moluscos, animais de corpo mole, muitos dos quais existiam antes dos seres humanos. O mexilhão, o caracol, o polvo e a lesma também são moluscos.
Em nosso mundo os quitons são pequenos e não se movimentam tão rápido.
Mas aquele era, evidentemente, um Quiton alterado pelas condições ambientais daquele mundo estranho.
O grupo ouviu um barulho.
Quiton estava de volta, disposto a esmagar Toku e seus amigos.
- Afastem-se! - orientou Toku.
Lia, Bruno e JR saíram correndo dali e ficaram olhando atrás de uma pedra.
Quiton havia dado um salto imenso e certamente cairia com tudo, bem em cima de Toku.
Mas o pequeno animal estava se preparando.
Com os olhos fixos em um único ponto e a respiração controlada, ele concentrava todas as suas forças em um único golpe.
Quando o molusco caiu sobre ele, Toku deu um soco tão forte que o inimigo desapareceu no céu.
- Ele deve ter ido para a estratosfera! - comentou Lia.
Buno pulava de alegria.
- Nunca vi ninguém tão forte!
- A questão não é de força, mas de controle. - explicou Toku. Forte é quem vence os outros,
mas poderoso é aquele que vence a si mesmo.
Passada a euforia, os três caíram em si.
Estavam em um mundo estranho, longe dos pais, de casa, de tudo...
- Como fazemos para sair daqui? - perguntou Lia.
- Sinceramente eu não sei. - desculpou-se Toku.
Lia franziu a testa.
- Como você nos encontrou?
- Eu vim recepciona-los a pedido do mestre Tao.
- Mestre Tão? Quem é esse?
- Vocês vão conhecê-lo na hora certa. Agora precisamos ir. É perigoso ficar aqui.
As três crianças acompanharam Toku.
Estavam confusas e inseguras.
Não tinham a menor idéia de que local era aquele e como poderiam voltar para casa.
O que era aquele prato de porcelana?
Como haviam chegado ali?
Quem era o mestre Tão?
Toku era realmente confiável?
Tantas perguntas... e uma única certeza: aquele era apenas o início de uma grande aventura...
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