Antiguidade Oriental:
a educação tradicionalista
Nas civilizações orientais:
+ Não havia propostas propriamente pedagógicas;
+ As preocupações com educação apareceram nos livros sagrados, que ofereceram regras ideais de conduta e o enquadramento das pessoas nos rígidos sistemas religiosos e morais.
(...) As sociedades tradicionalistas, por serem conservadoras, pretendem perpetuar os costumes e evitar a transgressão das normas. (...) (p. 33).
Enquanto nas sociedades tribais o saber é difuso, acessível a qualquer membro, nas civilizações orientais, ao se criarem segmentos privilegiados, a população, composta por lavradores, comerciantes e artesãos, não tem direitos políticos nem acesso ao saber da classe dominante. (p.33)
A princípio:
+ O conhecimento da escrita era restrito à devido ao seu caráter sagrado e esotérico.
+ Cresceu a procura pela instrução à mas apenas os filhos dos privilegiados atingiam os graus superiores.
Assim, surgiu o dualismo escolar = um tipo de ensino para o povo e outro para os filhos dos funcionários. A grande massa foi excluída da escola e restringida à educação familiar informal.
EGITO
+ Escolas funcionaram nos templos e em algumas casas e foram freqüentadas por pouco mais de 20 alunos cada uma;
+ Predomínio do processo de memorização;
+ Uso constante de castigos.
+ Escolas de Mênfis, Heliópolis ou Tebas – formaram escribas de categoria elevada: funcionários administrativos e legais, médicos, engenheiros e arquitetos.
+ Conteúdos ensinados: informações práticas à cálculo da ração das tropas em campanha, número de tijolos necessários para uma construção, complicados problemas de geometria associados à agrimensura, grande conhecimento de botânica, zoologia, mineralogia e geografia.
(...) esse volume de informação geralmente não vem acompanhado de questões teóricas de demonstração, nem de princípios ou leis científicas, o que, diga-se de passagem, será a grande contribuição do pensamento grego. (...) (p.34).
Exemplo: os egípcios conheciam as relações entre a hipotenusa e os catetos de um triângulo retângulo, mas foi o grego Pitágoras que procedeu à demonstração desse teorema, no século VI a.C.
BABILÔNIA
+ Destaca-se a cultura da poderosa classe sacerdotal, bem como a extrema dificuldade que a escrita cuneiforme oferece aos escribas, incumbidos de ler e copiar os textos religiosos à Por isso o aprendizado é longo, minucioso e voltado para a preservação desse língua, que sofreu apenas alterações insignificantes durante três milênios.
+ Os babilônicos:
- Construíram bibliotecas;
- Tinham amplo conhecimento de astrologia;
- Não descuidavam das aplicações do conhecimento, assim como os egípcios.
+ Os estudos científicos babilônicos vinham sempre mesclados com magia e adivinhação.
ÍNDIA
(...) a importância da tradição hindu está no fato de ter permanecido viva até os dias de hoje, por meio da herança de duas das principais religiões do mundo, o bramanismo e o budismo: ‘longe de pertencer inteiramente a um passado encerrado, como as glórias defuntas do Egito e da Babilônia, a aventura hindu prossegue sob nossos olhos.’ (p.34)
Hinduísmo:
+ Fundamenta-se nos livros sagrados dos Vedas à Rig-Veda (o livro mais antigo – talvez do terceiro milênio a.C.); Upanishads (textos mais recentes – entre 1500 e 500 a.C.).
+ Compreende que os seres e os acontecimentos são manifestações de uma só realidade chamada Brahman, alma ou essência de todas as coisas.
Enquanto nas civilizações orientais as divisões de classe são marcantes, na Índia a população é dividida em castas fechadas: os brâmanes (sacerdotes), os xátrias (guerreiros nobres), os vaicias (agricultores e comerciantes) e os sudras (servos dedicados aos serviços mais humildes).
Devido à crença de que todos saíram do corpo do deus Brahma, os brâmanes são considerados mais importantes por terem sido gerados da cabeça do deus. No outro extremo, os párias, por sequer terem origem divina, não pertencem a qualquer casta e por isso são intocáveis e reduzidos a uma condição miserável. (p.34).
+ A educação hindu privilegia os brâmanes;
+ Os brâmanes são encaminhados por mestres e aprendem os textos sagrados dos Vedas e dos Upanishads.
+ As outras castas podem receber educação elementar, com exceção dos sudras e dos párias.
+ A educação na Índia foi influenciada, também, pelo Budismo (religião fundada no século VI a.C., por Sidarta Gautama, o Buda = Iluminado)
+ A doutrina budista:- Tem caráter mais espiritualizado e valoriza, sobretudo, a relação entre mestre e discípulo;
- Expandiu-se para inúmeras regiões da Ásia, atingindo China e Japão.
- A partir dos anos 50 passou a exercer forte influência na juventude norte-americana, desgostosa com o modo de vida ocidental.
CHINA
A história da China revela uma das mais tradicionais culturas, que se mantiveram sem grandes mudanças mesmo até tempos recentes. É inevitável que a educação também reproduzisse esse caráter conservador, voltado para a transmissão da sabedoria contida nos livros clássicos, ainda que burilada por interpretações posteriores de outros sábios. (p.35).
Livros canônicos ou clássicos:
+ O mais antigo: I Ching (Livro das Mutações) à remonta ao terceiro milênio a.C;
+ De onde os sábios buscam inspiração e conceitos, como é o caso de Lao Tsé e Confúcio (século VI a.C.).
Lao Tsé:
+ Fundou o taoísmo a partir da noção do Tao (originalmente significa o Caminho) e dos princípios opostos yin e yang (Mais do que opostos, representam a união dos contrastes, um todo de duas metades, a harmonia que forma o Universo).
Kung Futsé (Confúcio):
+ Segue uma orientação mais conservadora que Lao Tsé.
+ Como sábio e professor, se ocupa com especulações voltadas para a aplicação prática na vida humana e, nesse sentido, exerce importante influência na formação moral dos jovens chineses.
Na China os letrados não são os sacerdotes, mas os mandarins (altos funcionários de estrita confiança do imperador e responsáveis pela máquina administrativa do Estado) à O sistema de seleção para esse ensino superior é extremamente rigoroso, baseado em exames oficiais que distribuem os candidatos nas diversas atividades administrativas.
A educação elementar visa à alfabetização, muito difícil e demorada devido ao caráter complexo da escrita chinesa. Também é ensinado o cálculo e oferecida a formação moral por meio da transmissão dos valores dos ancestrais. Tudo é feito de maneira dogmática, com ênfase nas técnicas de memorização. (pp.35 e 36).
HEBREUS
+ Estão impregnados da religiosidade e da ação dos profetas, seus primeiros educadores.
+ De início as sinagogas servem de local para a instrução religiosa, em que se dizem as verdades da Bíblia.
(...) os documentos bíblicos têm inevitável interesse histórico e, não somente nos fazem conhecer os valores morais e jurídicos do povo hebreu, como ajudam a compreender as raízes judaico-cristãs da cultura ocidental. (p.36).
O que distingue os hebreus dos demais povos antigos?
A superação da concepção politeísta, admitindo a existência de um só deus, Javé (ou Jeová);
A introdução da noção de individualidade (enquanto as outras civilizações não destacam propriamente a individualidade, por estarem seus membros mergulhados nas práticas coletivas, os hebreus desenvolvem uma nova ética voltada para os valores da pessoa e para a interioridade moral.);
A importância de todo e qualquer ofício e o reconhecimento do valor da educação manual.
Citações a respeito:
“A mesma obrigação tens de ensinar a teu filho um ofício como a de instruí-lo na Lei”.
“É bom acrescentar a teus estudos o aprendizado de um ofício; isso te ajudará a livrar-te do pecado”.
Em relação ao tópico 2, acima relacionado, vejamos o exemplo do Egito, citado por Manacorda (1989, p.13):
“Mais do que à consciência interior, a moralidade parece dirigida às relações interpessoais; o emendar-se perante os próprios olhos parece subordinado à oportunidade de não ser corrigido por outro. A universalidade do ensinamento moral parece sofrer o condicionamento social, já que se dirige a uma casta particular de indivíduos”.
O PENSAMENTO ORIENTAL HOJE
Tentativas de aproximação ao pensamento oriental hoje à críticas contemporâneas às conseqüências da extrema e unilateral valorização da razão.
(...) o desenvolvimento da ciência e da técnica trouxe a ilusão de que fora delas não haveria saber ou poder possíveis. Da mesma forma, o capitalismo desenfreado tudo submeteu aos valores do lucro e da competição. Daí resultaram o cientificismo, a tecnocracia, a sobreposição do mundo dos negócios à vida afetiva.
Por isso, o homem contemporâneo se acha mal consigo mesmo. Dono de um saber que vem da ciência e de um imenso poder sobre a natureza, na verdade lhe escapa o sentido de sua própria existência. Sabe muito bem como fazer, mas nem sempre para que e por quê (...) (p.36).
Esses motivos levaram alguns jovens de países mais abastados, a partir dos anos 1950, a iniciarem um movimento de contracultura, opondo-se ao modo de vida do homem da era tecnológica.
Exemplo: o movimento estudantil de maio de 1968 na França sofreu influências as mais diversas, dentre as quais a de segmentos da contracultura com inspiração oriental.
BIBLIOGRAFIAARANHA, Maria Lúcia. História da Educação. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna, 1996.
http://historiaeducar.blogspot.com/2007/09/antiguidade-oriental-educao.html
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