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Isto aconteceu há muito tempo na região de Dombes, perto de Lyon.
Conta-se que um dia o senhor do castelo de Neuville e sua esposa tiveram de se ausentar por algumas horas, deixando o seu filhinho de poucos meses no castelo à guarda da ama e do galgo (cão) do senhor.
Na ausência da ama uma serpente entra no quarto da criança.
Ao ver que o réptil se aproximava do berço, o cão atacou-a. Então deu-se uma luta violenta.
No ardor da briga, a criança caiu para baixo do berço, ficando no entanto em perfeito estado.
O cão matou a serpente e depois continuou de guarda à criança.
O TRISTE FIM DE UM HERÓI
A ama deu com a cena do quarto sujo de sangue, concluiu que o galgo matara a criança, trancou aporta.
Quando os pais do menino retornaram a ama contou o ocorrido.
Nisto, o senhor entra no quarto e, cheio de cólera, mata o cão.
Ao limpar o recinto, encontraram o menino dormindo tranquilamente no meio da desordem.
O senhor do castelo não teve de se esforçar nada para reconstruir o drama e reconhecer a coragem e lealdade do seu fiel cão.
Guinefort, seu galgo, foi enterrado com direito a tumulo e todo o respeito que merecia a sua proeza.
Com o tempo os camponeses dos arredores habituaram-se a ir em peregrinação à Guinefort, que segundo as crenças, curava e protegia as crianças.
Guinefort fez milagres... e converteu-se em São Guinefort em toda a região.
O CULTO DE SÃO GUINEFORT
Em 1260 o frade dominicano Étienne de Bourbon, em nome da santa inquisição, foi designado a pesquisar o culto de São Guinefort.
Evidentemente, Étienne de Bourbon tentou proibir este culto.
Mas, tal como demonstra a investigação realizada por Jean-Claude Schmitt e descrita no seu livro Le Saint Lévrier, o culto de Guinefort prolongou-se até muito depois do século XIII.
Aparece mencionado em 1632, 1826, 1877, 1886, 1902 e mesmo em 1940, quando uma avó se lembrou de ir ao bosque de Saint-Guinefort para conseguir a cura dos seus netos.
PAVIA, CLUNY, SENS, BRUJAS...
Mais estranhas ainda são as outras onze versões da história de Guinefort que Jean-Claude Schmitt descobriu na Europa Ocidental e que remontam à mesma época.
Em Pavia, São Guinefort era humano e estava crivado de setas como São Sebastião; protegia os homens da peste; a sua festa celebra-se a 22 de Agosto.
Em1082 foi feita à abadia de Cluny uma doação de uma «fazenda de San Guinifortius». Em 1131, na mesma abadia de Cluny faz-se menção a um altar dedicado a São Guinefort.
Em algumas igrejas de Sens, Brujas e outras cidades francesas ainda se celebra o culto de São Guinefort.
E até Montargis, famosa pelo seu cão, há no castelo uma capela subterrânea que lhe foi dedicada, não se sabendo se se trata do galgo santo de São Guinefort de Pavia.
Fontes http://bandarravet.blogspot.com/
http://en.wikipedia.org/wiki/Saint_Guinefort